quinta-feira, 10 de maio de 2012
Pausa - Mário Quintana
PAUSA
Mário Quintana
Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.
Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
Com algum ciclista tombado?
Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:
“Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…
A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
E daí?
– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança – , o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
A vaca e o hipogrifo. © by Elena Quintana. São Paulo, Globo
terça-feira, 24 de abril de 2012
terça-feira, 17 de abril de 2012
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Literatura Definicional
Consiste em reescrever uma frase através da definição de cada palavra encontrada no dicionário.
Vejamos:
A famosa frase: “Eu acho que vi um gatinho”.
Agora a não tão famosa:
A individualidade metafísica da minha pessoa supõe ter
alcançado com a vista algum animal mamífero, carnívoro, felídeo (Felis
cattus domesticus), digitígrado, de unhas retráteis, domesticado pelo homem
desde tempos remotos, e usado comumente para combate aos ratos.
quinta-feira, 29 de março de 2012
O início
do início do início. Isto não é um grupo de pesquisas. É arte em composição e
disposição. Gestação. Títulos enjoam. Cabeças foram feitas para tensar.
Tensemos tessituras/tecituras palavras palavras palavras. Jogos. A carne
exposta das letras. Isto não é um jogo. Isto não é composição, é reposição,
disposição, vontade. Imagens. Sons. Estamos aqui para arregaçar as mangas
sujas da literatura, de todas as artes plásticas, práticas, fáticas. É um grupo
de pesquisas. Acadêmicas. Ideias para sermos úteis (a quem?), uterinos,
ulteriores, a quem possa interessar. A nós mesmos. A todo mundo (mas mundo é
muita gente). Perseveremos.
Somos
estudantes de Letras e Pedagogia, mas somos amantes das artes, por enquanto
namorados, ou ainda menos: flertamos com elas, distantes, timidamente. Rótulos
não convêm, não somos de Letras, somos das letras; não somos de Pedagogia,
somos as crianças levadas pelas mãos da Curiosidade.
O ALiPo é pura arte em estado de
potência. Buscamos saber o que é a arte e a literatura potenciais. Buscamos
mais: criar junto com esses fulanos que andam por aí revelando seus segredos,
em todas as instâncias; da divulgação dos nossos grandes inspiradores, o OuLipo
(Ouvroir de Littérature Potentielle) às manifestações "populares"
(conceito rótulo de rótulo), tais como o cordel e música de câmara, o ballet e
o repente, o mural e a pichação, o cinema e as sombras chinesas. Tirar as artes
do nicho e os artistas dos púpitos, fazermo-nos artistas e levarmos arte para o
campus, para a sala de aula, para nossas vidas.
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